Fraturas em crianças
Por SBOP | Oct 2016

Fraturas em crianças

O tratamento, resultado e prognóstico de uma fratura estão relacionados a fatores como idade da vítima, gravidade, tipo e localização do trauma, treinamento do ortopedista e até características individuais da criança ferida. Dessa forma, é importante que os pais falem com o ortopedista responsável e sejam esclarecidos quanto às particularidades do tratamento. As informações de outros pais que tiveram filhos com fraturas “semelhantes” podem não ser aplicáveis àquela criança.

O trauma

O trauma necessário para provocar uma fratura nem sempre é violento. Um tropeço seguido de queda ao chão pode ser suficiente. A maioria das fraturas está relacionada a quedas no ambiente doméstico, afetando em maior proporção os membros superiores (clavícula, punho, antebraço e cotovelo).

Caso testemunhem o acidente, os pais ou responsáveis devem relatar ao médico a situação e a forma como a criança caiu ou foi atingida. Do mesmo modo, informar a circunstância em que a criança mais sente dor pode contribuir para o diagnóstico: observe se ela grita ou chora ao trocar de fralda ou ao ter seu braço pressionado, por exemplo.

Sintomas

O sintoma mais importante da fratura é a dor imediata produzida pelo trauma, a qual se acentua com o movimento ou com a compressão da região afetada. Assim, a criança evita movimentar o membro fraturado, o que é chamado de impotência funcional. A presença de movimento ativo não afasta a possibilidade de fratura.

Quando a fratura ocorre nos membros inferiores, a criança evita apoiá-los no chão ou manca. Em alguns casos, há deformidade aparente após o trauma. O inchaço (edema) é comum, mas não fundamental. Especialmente em crianças com maior proporção de gordura o edema e os hematomas podem ser de difícil visualização. Às vezes surgem hematomas (manchas violetas) na pele, que representam um sangramento interno. Isso, porém, não é motivo para alarme.

Em certas situações, verifica-se uma movimentação anormal do osso no local da fratura, acompanhada de barulho ou sensação de raspar.

Tipos de fratura

Fratura fechada: não há lesão da pele.

Fratura aberta ou exposta: há, na pele, uma ferida que se comunica com a fratura. Pode ser de qualquer dimensão, inclusive se resumindo a um ponto.

Fratura patológica: ocorre num osso afetado por problemas prévios que o enfraqueceram (como doenças congênitas, infecções e lesões benignas ou malignas).

Fratura por estresse: ocorre em ossos submetidos a esforço contínuo. Sua incidência vem se elevando devido à disseminação da prática esportiva intensa pelos jovens.

Fratura desviada: os fragmentos do osso se deslocam.

Fratura articular: há acometimento da articulação.

Descolamento epifisário: atinge a placa de crescimento.

Fratura em “galho verde”: o osso é “lascado” ou “trincado”, sendo que um lado dele permanece íntegro.

Fratura subperiostal: ocorre sob o periósteo, membrana resistente que envolve o osso.

O que fazer diante da suspeita de fratura

A primeira providência consiste em imobilizar o membro fraturado. Isso reduz a dor e o inchaço e evita que a lesão aumente (imobiliza-se o membro na posição que está).

Se, além da fratura, houver ferimento, limpe-o com água corrente ou soro fisiológico e cubra-o com material limpo ou estéril até a ida ao serviço de emergência. Caso haja sangramento abundante, faça uma compressão moderada na ferida para estancar o sangue.

Como tratar a fratura

Imobilização: em sua maioria, as fraturas podem ser tratadas de maneira conservadora, com imobilização por tempo adequado. Devido a sua capacidade de remodelação, as pontas fraturadas não precisam estar em contato total e encaixe perfeito: desvios são aceitáveis, conforme as características do osso, a localização da fratura e a idade da criança. Já entre os adultos, a tolerância ao tamanho do desvio é menor.

Redução: algumas fraturas com desvio necessitam ser reduzidas (ou seja, colocadas no lugar). Isso pode ser feito sob anestesia geral, local, regional ou, em alguns casos, sem a ajuda de anestésicos. Nessa última modalidade, o ortopedista aplica uma manobra rápida para a redução da fratura. Embora pareça agressivo, esse método dispensa, além da anestesia, a internação, e faz a dor passar muito rapidamente. A decisão sobre o método da redução, porém, deve levar em consideração diversos fatores como idade da criança, tempo de jejum, tipo da fratura, osso fraturado e aceitação pelo paciente e pelos pais.

Cirurgia: certas fraturas exigem cirurgia para o adequado posicionamento dos fragmentos da fratura e/ou fixação. Esta é obtida com a utilização de materiais como pinos, hastes, placas ou fixadores. Em determinados casos, não há necessidade de cortes: a fratura pode ser fixada com pinos que atravessam pela pele. Também requerem procedimento cirúrgico lesões que afetam a articulação, que atingem a placa de crescimento, fraturas expostas e casos nos quais se verifica ferimento da artéria (onde se percebem alteração da cor da extremidade do membro ou perda do pulso).

Cuidados após o tratamento inicial

Geralmente, as fraturas são imobilizadas com tala de gesso, gesso circular, gesso sintético ou aparelhos. Em crianças não há a preocupação de evitar uma imobilização mais intensa ou demorada, pois sua recuperação é rápida e dificilmente ocorre perda do movimento da junta pela imobilização. Por outro lado, é importante que o osso tenha adquirido uma resistência próxima ao normal, para que um novo traumatismo não cause fratura no mesmo lugar. A imobilização e a medicação controlam a dor, mantendo-a num nível confortável para a criança. Dores mais intensas ou com exacerbação progressiva devem ser relatadas ao médico.

Entre os métodos de imobilização, o gesso sintético (na verdade uma bandagem de resina) chama particularmente a atenção dos pais. Suas vantagens são o menor peso e a maior resistência. No entanto, ao contrário do que se pensa, ele não pode ser encharcado no mar ou na piscina. Apesar de ser um material plástico e, portanto, impermeável, a água que fica entre ele e a pele podem causar muitos problemas. Além disso, não permite a modelagem, tão importante e necessária em muitas fraturas. Outra desvantagem importante é seu alto custo.

Utilizam-se as talas quando existe possibilidade de um inchaço muito grande e há segurança quanto à estabilidade da fratura. Talas são particularmente importantes depois de uma cirurgia. Desvantagens são menor resistência e durabilidade.

Além da imobilização, o tratamento das fraturas pode envolver uma série procedimentos e cuidados adicionais.

Controles: dependendo do tipo de fratura, há necessidade de controles radiográficos para verificar se a posição do osso está mantida de maneira adequada. Ao final do tratamento, uma radiografia pode ser solicitada para avaliar se existem condições para deixar o local sem imobilização ou proteção. Fraturas simples e com excelente prognóstico dispensam essa radiografia de checagem.

Tempo de consolidação: varia de poucas semanas a meses. Tudo vai depender da idade da criança, do tipo e da localização da fratura, do tratamento realizado e dos cuidados tomados. O ortopedista oferece aos pais uma previsão do tempo de consolidação, que pode se modificar conforme o aspecto revelado pelas radiografias de controle, pois existem fatores individuais que interferem nesse prazo.

Fisioterapia e reabilitação: Depois do tempo de imobilização, verifica-se a atrofia do membro e certa dificuldade em retomar os movimentos normais. Para a maioria das crianças, a recuperação ocorrerá naturalmente. No entanto, em casos específicos, e também entre crianças maiores e adolescentes, talvez seja necessário um acompanhamento fisioterápico. O retorno à atividade deve ser progressivo e respeitar a idade e atividade da criança. Ela pode retomar prontamente aos exercícios sem impacto, como a natação. Já a prática de esportes com risco de impactos e quedas (futebol, skate, basquete) tem de aguardar a liberação pelo ortopedista.

Acompanhamento: mesmo após o tratamento e a consolidação do osso, a criança ainda precisa de acompanhamento médico. Isto é necessário para certificar-se que: 1 - houve recuperação total do movimento e da função; 2 - o osso se mantém alinhado; 3 - o crescimento do osso não foi afetado.

Cuidados ao usar gesso

O gesso é utilizado para manter a posição adequada da fratura, protegendo o membro e aliviando a dor. Se a criança engessada apresenta choro intenso, desconforto acima do normal ou se queixa de dor, deve-se procurar imediatamente o ortopedista ou o serviço de emergência.

Criança engessada: sinais de alerta

Deve-se procurar ajuda médica em caso de:

  • dor intensa, acima do normal, progressiva, sem resposta ao uso de analgésico;
  • inchaço dos dedos;
  • palidez dos dedos ou extremidades roxas;
  • dedos frios;
  • formigamento ou alteração de sensibilidade;
  • dedos muito dobrados;
  • dificuldade para movimentar os dedos.

Esses sintomas indicam que pode estar havendo uma compressão capaz de lesionar nervos e músculos, que, se não for tratada prontamente, pode deixar sequelas graves.

Diferenças entre o osso da criança e do adulto

Os ossos da criança apresentam diferenças em relação aos dos adultos, as quais são importantes para determinar o tipo da lesão, o tratamento e o prognóstico em caso de fratura. O osso da criança apresenta maior elasticidade e porosidade; o periósteo é mais resistente e há a presença das cartilagens de crescimento. Além disso, como a criança está em crescimento, a capacidade de seu corpo de formar e desenvolver os ossos é superior à do adulto.

Essas diferenças determinam algumas características vantajosas para a criança:

  • maior dificuldade para a ocorrência de fraturas;
  • grande proporção de fraturas incompletas, tipo “galho verde” ou subperiostal;
  • menor incidência de fraturas cominutivas;
  • capacidade de remodelação;
  • cicatrização ou calo ósseo mais veloz, em até menos da metade do tempo necessário a um adulto;
  • melhor e mais rápida recuperação após a fratura;
  • menor necessidade de cirurgia para reduzir e fixar as fraturas.

A esses aspectos positivos, no entanto, contrapõem-se algumas desvantagens sérias:

  • fraturas próximas à cartilagem de crescimento podem causar deformidades e déficit no crescimento;
  • uma deformidade ou sequela pode ter repercussão em toda formação educacional, profissional, social e psicológica da pessoa;
  • menor cooperação para recomendações como, por exemplo, não andar, não correr, ter cuidado etc;
  • dificuldade em aceitar o gesso ou imobilizações prolongadas.

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